Fonte:
Jornal A Tarde - 24/01 - B10
Matéria
de Meire Oliveira
Viviane
dos Santos Barbosa, 36 anos, desenvolveu produto que reduz emissão de gases
poluentes
"Não
saber as coisas me incomoda". Esta afirmação sempre norteou a trajetória
da baiana Viviane dos Santos Barbosa, 36 anos, que venceu a concorrência com
800 trabalhos científicos em conferência internacional na Finlândia.
Talvez
o costume na infância de misturar o sumo de vários tipos de folha, derramar uma
lata de óleo numa caixa de sabão em pó e o encantamento pelas experiências do
pai com equipamentos eletrônicos já indicavam o caminho que seguiria.
"Estava
no fundo da plateia, sem esperança, quando chamaram meu nome", contou.
Confinada
de seis a oito horas em um laboratório da Delft University of Technology, na
Holanda, Viviane desenvolveu catalisadores (substâncias que aceleram e melhoram
o rendimento das reações) a partir da mistura dos metais paladium e platina.
"Os
catalisadores existentes funcionam em altas temperaturas. Consegui desenvolver
produtos que funcionam em temperatura ambiente e reduzem a emissão de gases
tóxicos", relata.
O
trabalho da mestre em engenharia química é na área da nanotecnologia. Trata-se
de um ramo da ciência que consiste na manipulação de átomos e, a partir desse
controle, realizar novas ligações entre eles, criando novas substâncias,
estruturas e materiais.
"A
aplicação é múltipla. Na saúde, com novas drogas, vacinas, melhoria de
produtos; na informática, condensando mais informações em menores espaços,
dentre outros", explicou o doutor em ciência e engenharia dos materiais e
coordenador do Grupo de Nanotecnologia da UFBA, Márcio Nascimento.
O
contato coma ciência começou com o pai Florisvaldo Barbosa,morto há cinco anos,
que nunca ficava sozinho na manipulação de aparelhos como rádio e televisão.
"Ele era muito inteligente, adorava radioamadorismo e encantava os filhos
com isso", contou Nilza dos Santos Barbosa, 59 anos, mãe de Viviane e
professora de português.
Assim,
química foi a opção no Cefet (atual Instituto Federal de Educação, Ciência e
Tecnologia da Bahia – Ifba) e no vestibular da Universidade Federal da Bahia
(Ufba). O tempo na instituição foi de apenas dois anos, mas o suficiente para
Viviane sobressair-se. "Sua inteligência e dedicação são marcantes",
disse Jailson Bittencourt, doutor em ciências em química analítica e inorgânica
e coordenador do grupo em que Viviane foi bolsista na Ufba.
Mudança
Em
meados da década de 90, por conta da insatisfação com o trabalho administrativo
na Petrobras e do casamento com um holandês, Viviane saiu do Brasil. "Pedi
demissão e fui. Lá, entrei no curso de holandês e aprendi inglês sozinha",
contou. Ainda pela inquietude nata, resolveu ultrapassar mais um obstáculo e
venceu 90 candidatos estrangeiros para quatro vagas na universidade em Delft,
passando em primeira colocação.
"No
início, achavam que eu não conseguiria e colocaram várias dificuldades. Nas
aulas, notava que as explicações dos professores eram superficiais, como se eu
não pudesse dominar o assunto.
Mas
encarei tudo isso como um desafio a ser superado". Assim ela concluiu a
graduação e ingressou no mestrado.
O
exemplo dos pais e a infância difícil serviram de estímulo.
Aos
3 anos, Viviane já sabia ler. Um ano depois, no segundo dia de aula na Escola
Marquês de Abrantes (Barbalho), foi logo transferida da alfabetização para a 1ª
série do ensino fundamental. A fama de aluna exemplar seguiu Viviane por toda a
vida escolar.
"Sempre
fui muito curiosa e queria entender o porquê de tudo", disse.
As
notas azuis nos boletins amenizavam outra característica: a personalidade
forte.
"Ela
é danada e sempre a líder da turma. Sempre foi politizada, envolvida com as
questões sociais, como o combate ao racismo", conta a mãe."Faz parte
contestar. No Cefet e na Ufba, fui do diretório acadêmico, do diretório central
dos estudantes, das passeatas contra o aumento da passagem do ônibus",
listou.
A
mãe da pesquisadora também lembra as travessuras, como o pedaço de madeira que
Viviane e os irmãos levavam para a escola em dia chuvoso. "Eles desciam a
Ladeira da Água Brusca no meio do aguaceiro derrapando".
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